Sexta-feira, 26 de abril de 2024



Manifestantes bloqueiam a BR-319

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De acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA), o rio Madeira oscilou e baixou. No entanto, a tensão entre afetados pela enchente histórica de 2014 e a prefeitura da capital só tem aumentado. Resultado disso foi a manifestação que fechou a BR-319, logo após o Conjunto Habitacional Dnit – do outro lado da ponte do rio Madeira.

Os manifestantes perderam as casas no ano passado para as águas e, desde então, dependiam do auxílio dado pela prefeitura para pagar o aluguel. Com o fim da ajuda, muitas pessoas tiveram que deixar os locais que habitavam e procurar alternativas de onde viver. Segundo os manifestantes, esta alternativa era uma promessa da prefeitura da cidade: construir casas populares do outro lado do rio e cedê-las para eles. Porém, o projeto ainda não saiu do papel.
“Estamos reivindicando uma terra que é de posse da prefeitura, mas que foi prometida a nós. Disseram que construiriam casas e até hoje não temos nada”, desabafa Michael Farias. O manifestante então afirma que a decisão de invadir os terrenos foi unânime. “Decidimos entrar nos lotes para assegurar nosso pedaço de terra, não estamos nem pedindo mais que construam casas para nós. Queremos apenas ter o local para nós mesmos podermos construir”, afirma.

Com gritos indignados, muitos não estavam dispostos a liberar a via para o tráfego  Fotos: Roni Carvalho/Diário da Amazônia

Participantes pediram a presença do prefeito

De acordo com Farias, uma visita à Secretária Municipal de Regularização Fundiária e Habitação (Semur) tinha sido agendada para ontem (12) de manhã. “Nós fomos à Semur, só que tivemos a porta fechada em nossa cara. Apenas nos disseram que não tinham nada pra gente”, lamenta o jovem. Em meio aos gritos dos participantes, Farias pedia a presença do prefeito e do governador no local para negociação.

Homens e mulheres, que se estabeleceram nos terrenos prometidos há algumas semanas, bloquearam a via com pneus, troncos de árvores e pedaços de cerca que encontraram nas redondezas. Com filhos pequenos e gritos de indignação, uma mulher que se apresentou como Joana D’Arc afirmou que se sentiu uma chacota por parte da Secretaria na visita. “Fecharam a porta na nossa cara, não quiseram nem explicar o porquê de não termos uma negociação, ou opções de como resolver a nossa situação”, declara.

Apesar de pessoas carregaram facões e pedaços de pau, a maior confusão da manifestação se deu por conta de uma briga entre um motociclista e um manifestante. Nenhum dos dois quis dar entrevista.

As testemunhas revelaram que o motociclista tentou passar pela barreira imposta pelos manifestantes, mas que ninguém poderia passar. “Não somos pessoas sem coração, quem realmente precisa passar, por causa de doenças ou alguém passando mal, estamos liberando, mas os motoristas precisam entender que só o caos chama a atenção das autoridades”, informou um manifestante que não quis se identificar.

Falta de diálogo aborrece

As pessoas na rodovia pediam veementemente a presença de autoridades que pudessem dar alguma ideia ou prazo para a solução do problema, mas a demora para que alguém aparecesse só deixava o ambiente com um ar ainda mais hostil. “Prometeram para nós que viria alguém aqui para conversar conosco, mas até agora nada. Estamos totalmente às cegas, sem saber como será o nosso futuro”, afirma Ailton Veloso.

O manifestante ainda revela que fecharam a pista pela manhã, mas que resolveram acatar a decisão de esperar por alguém, porém, quem esperavam não apareceu. “Nós resolvemos desbloquear a via às 11h, mas se ninguém aparecesse iríamos recomeçar o protesto às 14h. Foi o que precisamos fazer: voltar para a rodovia”, conta.

O calor forte do meio da tarde complicou ainda mais a situação de motoristas e caminhoneiros que foram impedidos de seguir viagem pelos manifestantes. Caso de Adilson Jacobowiski, que ficou quase duas horas parado. “Creio que manifestações deviam acontecer em frente aos órgãos responsáveis pelo que estão reivindicando, não parar uma rodovia importante, prejudicando quem está trabalhando”, comenta.

O caminhoneiro ainda disse que conquistar direitos é realmente uma luta, principalmente no Brasil, mas que toda luta precisa de planejamento e organização. “Não concordo com o fato de eles estarem tentando conquistar um direito, como o de moradia digna, tirando o meu direito de ir e vir”, finaliza Jacobowiski.

Os manifestantes concordaram em desbloquear a BR-319   Roni Carvalho/Diário da Amazônia

Polícia rodoviário pôs fim ao Protesto

De forma temporária, a Polícia Rodoviária Federal chegou a uma conclusão pacífica com os manifestantes. Anunciado como inspetor Ribeiro, o oficial conversou com os manifestantes, que estavam em polvorosa. Ele explicou que o órgão entrou em contato com a secretaria responsável pela reivindicação deles, mas que não havia alguém designado para negociar.

“Ligamos na Semur, mas fomos informados que o secretário está em viagem e o secretário adjunto não tem poder para resolver a questão”, informou o inspetor aos participantes do manifesto.

Com gritos indignados, muitos não estavam dispostos a liberar a via para o tráfego. “Não podemos desistir assim, precisamos colocar um ponto nessa situação. Não dá mais para ficarmos sem resposta”, gritou um manifestante. No entanto, pela proximidade do Carnaval e com os órgãos responsáveis em recesso pelo feriado, os manifestantes concordaram em desbloquear a BR-319 – com uma data para voltarem.

Segundo Ailton Veloso, se até quarta-feira os responsáveis pela resolução da questão da invasão não firmarem alguma medida, o bloqueio deve ser erguido novamente e os afetados pela enchente do ano passado voltarão à rodovia para fechamento com tempo indeterminado. “Estamos finalizando o protesto de forma pacífica e devemos esperar o Carnaval passar, mas voltaremos para a BR se nada for comunicado ou resolvido”, informa.
Até o fechamento desta edição, a Semur não atendeu às ligações ou se pronunciou quanto ao caso.


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