Quinta-feira, 25 de abril de 2024



Uso incorreto de medicamentos custa R$ 60 milhões aos cofres

Os danos causados por medicamentos, além de graves, custam R$ 60 bilhões ao ano para o Sistema Único de Saúde (SUS). A cada real investido no fornecimento de medicamentos, o governo gasta cinco reais para tratar as morbidades relacionadas a medicamentos (MRMs). As mais onerosas são as causadas por reações adversas (39,3% dos gastos), pela não adesão ao tratamento (36,9%) e pelo uso de doses incorretas (16,9%). Metade dos casos poderia ser evitada com uma supervisão mais cuidadosa e efetiva dos tratamentos, aponta pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2017). Atentos ao problema, os conselhos de Farmácia se uniram em uma campanha nacional de promoção da adesão às terapias medicamentosas e ao seu uso seguro e racional. A iniciativa ocorre em comemoração ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio.

O público-alvo da campanha não foi escolhido por acaso. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 70% dos pacientes com hipertensão, diabetes ou dislipidemias – em sua maioria, usuários de vários medicamentos –, não conseguem controlar suas doenças mesmo tendo diagnóstico e prescrição de médicos. Em outro estudo, o órgão apurou que 82% dos pacientes que utilizavam 5 ou mais medicamentos de uso contínuo o faziam de forma incorreta ou demonstravam baixa adesão ao tratamento. Um em cada três pacientes abandonou algum tratamento, 54% omitiram doses, 33% usaram medicamentos em horários errados, 21% adicionaram doses não prescritas e 13% não iniciaram algum tratamento prescrito.

Além de promover a conscientização da população sobre a importância do acompanhamento farmacêutico para a prevenção de danos e o uso seguro dos medicamentos, os conselhos querem utilizar a campanha para contribuir de forma mais efetiva para a reversão dessas estatísticas. Durante todo o mês de maio, os voluntários engajados na iniciativa buscarão serviços públicos de saúde, como as UBSs e as farmácias públicas, para verificar se pacientes polimedicados têm acesso e aderem ao tratamento medicamentoso ou não.

A proposta é envolver, também, os farmacêuticos dos serviços onde será feita a coleta dos dados, para que eles, ao entrevistar seus pacientes, tenham uma melhor compreensão do problema, e consigam traçar estratégias para resolvê-lo. O estudo será feito em 24 das 27 unidades federativas. A expectativa é divulgar o resultado durante o Congresso do Conselho de Secretários Municipais de saúde, em julho. Os conselhos de Farmácia esperam sensibilizar os gestores públicos. “É uma iniciativa que visa à melhoria da qualidade da assistência à saúde e também racionalizar gastos do sistema público”, comenta o presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João.

Por ocasião da divulgação dos resultados, serão apresentados também os dados do Projeto Cuidado Farmacêutico no SUS, do CFF, que visa à inserção do cuidado farmacêutico na rotina das unidades básicas de saúde. Já implantado em 119 municípios brasileiros, o projeto está capacitando cerca de mil farmacêuticos para o atendimento direto ao paciente. “Ao final do curso, nossa expectativa é deixar esse serviço em pleno funcionamento, com os colegas atendendo, e a população sendo muito bem cuidada”, diz o coordenador do projeto, Valmir de Santi, conselheiro federal de Farmácia pelo estado do Paraná.

O presidente do Conselho Regional de Farmácia de Rondônia (CRF-RO), João Dias Júnior, alerta sobre a necessidade de a população informar no ato da consulta ao médico ou ao farmacêutico sobre o uso de outro medicamento, uma vez que o efeito terapêutico de um pode neutralizar o do outro ou apresentar um falso diagnóstico nos exames. Ele citou como exemplo os anticoncepcionais, que podem ter seu efeito reduzido, possibilitando uma gravidez não planejada.


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