Quinta-feira, 02 de maio de 2024



Ferrovia entra no Plano de concessões do governo

O interesse da China em investir na construção da Ferrovia Transcontinental, que se tornou mais concreto com a assinatura de protocolos de intenções e a expedição de investidores, empresários e representantes do governo chinês pelo possível traçado da ferrovia, que em Rondônia será paralelo à rodovia BR-364, fez com que o governo brasileiro a incluísse no plano de concessão anunciado ontem pela presidente Dilma Rousseff.

A notícia foi comemorada pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO) que liderou o encontro Brasil/China em território rondoniense nesta semana. “A assinatura de protocolos de intenções entre os três países: Brasil, China e Peru, e agora entre os três Estados: Rondônia, Mato Grosso e Acre; e a inclusão da ferrovia no plano de concessões devem acelerar os estudos para elaboração dos projetos, os leilões e o início das obras”, disse Acir.

O novo plano de concessões de infraestrutura deve chegar agora a R$ 190 bilhões em investimentos da iniciativa privada. A estimativa originalmente em discussão estava em torno de R$ 134 bilhões, mas na reunião de domingo, que durou quase 5 horas, o governo brasileiro resolveu dar uma turbinada nos investimentos. O valor deve crescer em mais R$ 54 bilhões com a inclusão no plano do acordo internacional para a construção da ferrovia transcontinental (entre o Peru e o Brasil, com participação chinesa), a Rio-Vitória e os processos já iniciados em 2014, no qual as empresas interessadas nas concessões se candidatam a elaborar o projeto.

Os chineses também comemoraram a inclusão da ferrovia no plano de concessões e já traçam estratégias com os brasileiros e peruanos para participação de empresas dos três países nas obras. A partir das diretrizes do Governo Federal e do que foi discutido nas reuniões de Ji-Paraná e Vilhena, e do que ainda será discutido em Lucas do Rio Verde (MT), o próximo passo será juntar as equipes técnicas dos três países para elaborar um projeto preliminar com levantamentos que apontarão os recursos necessários para a obra e o modelo de concessão. “É uma obra estratégica para o comércio entre os três países e que elevará em muito a relação comercial entre a Ásia e a América do Sul”, frisou o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang.

Com base nessas discussões, o modelo de concessão da ferrovias será aperfeiçoado. O governo poderá optar entre realizar os leilões por maior valor de outorga, menor tarifa ou compartilhamento de investimento. A escolha do modelo se dará de acordo com as características de cada ferrovia. Em todos os casos, haverá garantia de acesso a terceiros (direito de passagem e tráfego mútuo).

Porto velho, polo de escoamento do agronegócio

O projeto prevê uma ferrovia que ligará o porto de Ilo, no Sul do Peru, ao Porto do Açu, no Estado do Rio de Janeiro. O senador Acir explicou que a Ferrovia Transcontinental deverá integrar a estrutura intermodal de transportes do chamado Arco Norte, que tem Porto Velho como polo de escoamento do agronegócio, através dos terminais portuários do rio Madeira. “É mais uma oportunidade que teremos para defender que obras da ferrovia comecem em Porto Velho na direção de Vilhena e Lucas do Rio Verde e, depois, na direção do Acre e do Peru”, frisou Acir.

O senador rondoniense destacou a importância de investimentos em todos os modais de transporte, salientando a necessidade de modernização e ampliação dos portos fluviais da Amazônia, a duplicação da BR-364, e a reconstrução da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus.

Depois de desembracar no domingo em Porto Velho e se reunir na segunda-feira em Ji-Paraná e Vilhena, a comitiva chinesa participou ontem de encontro em Comodoro (MT); e hoje têm nova reunião, em Lucas de Rio Verde (MT), com representantes dos governos de Rondônia, Acre e Mato Grosso.

Empresários avaliam visita de chineses como positiva 

Os empresários rondonienses ganharam novo ânimo com o anúncio da construção da Ferrovia Transoceânica.
“O progresso não atrapalha, só ajuda”, avalia o empresário do ramo de caminhões em Porto Velho, Adélio Barofaldi, que também é vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero).

Ele também destacou a importância da reunião, em Ji-Paraná, na segunda-feira, entre os representantes dos governos dos Estados de Rondônia, Acre e Mato Grosso com o embaixador da China no Brasil, diplomata Li Jinzhang.

“Estamos bastante otimistas com este encontro de forças e interesses políticos em favor do desenvolvimento. Em nenhum momento o trem atrapalha o fluxo de cargas dos caminhões, já que o volume transportado pelos trens é exageradamente maior que o dos caminhões. Todo o progresso é bem-vindo”, acrescentou Barofaldi, ao observar nas falas dos estrangeiros o interesse pela importação de produtos agropecuários rondonienses, como o peixe e a carne bovina, por exemplo.

Baseado em Ariquemes e com negócio varejista em Porto Velho, o pecuarista Antônio Aparecido Custódio entende que a Ferrovia Transoceânica vai impulsionar ainda mais a economia de Rondônia. “Se hoje crescemos a taxa de 5%, essa infraestrutura vai nos favorecer um crescimento econômico ainda maior”, disse o pecuarista ao especular que o funcionamento do transporte férreo começa a operacionalizar dentro de 10 anos.

Mais otimista sobre a obra chinesa em chão rondoniense, o industrial Luiz Bernardo, de Ji-Paraná, calcula que dentro de 3 a 4 anos os trilhos da ferrovia já poderão ser vistos pela região. “Os governos Federal e dos Estados envolvidos, mais a iniciativa privada, precisam se unir numa força-tarefa e abraçar com muita vontade esse projeto”, apontou.


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