Quinta-feira, 02 de maio de 2024



‘Segui chorando do início ao fim’, diz mãe após ver imagens de criança autista sendo agredida em clínica

As agressões sofridas por uma criança autista, de 8 anos, em uma clínica particular de Manaus, foram descobertas pela própria mãe, após ela solicitar imagens das câmeras de segurança da sala onde a vítima realizava terapia ocupacional.

A fisioterapeuta Samia Patricia Riatto Watanabe, de 44 anos, foi indiciada por maus-tratos pela Polícia Civil e o caso foi encaminhado à Justiça do Amazonas.

Em depoimento à polícia, a fisioterapeuta negou as acusações. Ao g1, os advogados reiteraram a inocência da cliente e dizem que as acusações são infundadas (leia mais abaixo).

“Senti uma angústia gigantesca desde o primeiro vídeo e segui chorando do início ao fim, pois vi claramente que ela não realizava nenhum tipo de intervenção terapêutica com ele… E quando assisti à primeira agressão, não aguentei e parei de assistir”, lembrou a mãe.

 

De acordo com a mãe, o filho iniciou a terapia ocupacional em março deste ano e tinha duas sessões por semana. Ao todo, ele foi atendido pela clínica por cerca de 4 meses.

“Em junho começamos a notar que ele estava resistente para ir para terapia em questão, chegando, às vezes, a lagrimar. Mas como nessa época ele tava resistente para várias outras atividades, não desconfiamos dela. Até que, apesar da dificuldade de linguagem, ele falou que a tia havia batido na sua cabeça”, disse.

Imagem acima foi anexada nos autos da polícia com a descrição: "Às 14:31:46 – Visualiza-se a Sra. Samia falar com Isaías aparentemente ríspida em tom de ameaça e puxa a sua mão esquerda. — Foto: Arquivo pessoal

Imagem acima foi anexada nos autos da polícia com a descrição: “Às 14:31:46 – Visualiza-se a Sra. Samia falar com Isaías aparentemente ríspida em tom de ameaça e puxa a sua mão esquerda. — Foto: Arquivo pessoal

A mãe, então, solicitou à clínica para assistir as imagens das câmeras de segurança do mês de junho, de todas as sessões. Foi quando as agressões foram descobertas.

“Ele agora está passando por uma avaliação pós-traumática e seguimos cuidando dele, levando às terapias, a agitação dele e comportamentos disruptivos aumentaram, mas seguimos tratando, mesmo sem saber o dano causado por tudo que ele passou”, lamentou.

O caso foi denunciado à polícia em 17 de julho, e encontra-se tramitando no 15º Juizado Especial Criminal de Manaus.

Procurada pelo g1 nesta terça-feira (5), a mãe estava muito abalada e preferiu não conceder entrevista. Pela tarde, ela decidiu se pronunciar sobre o caso pois entende a necessidade da repercussão, já que apesar da denúncia, segundo ela, muitos encaravam como boatos.

“Tudo foi denunciado à polícia e com toda essa repercussão o que mais esperávamos já está acontecendo, ela foi desligada das clínicas que estava atendendo, pois a maior angústia era imaginar crianças passando pelo que ele passou“, declarou.

 

Os advogados da defesa da suspeita Samia Patricia Riatto Watanabe informaram, em nota, que o caso encontra-se sob investigação e não há ação penal em andamento. “Dessa forma, não há formalização de culpa, nem tampouco manifestação do Poder Judiciário, órgão competente para a resolução de conflitos e o único capaz de declarar se a conduta extrapola a atividade profissional”, diz trecho da nota.

O Tribunal de Justiça do Amazonas afirmou que no primeiro despacho do processo, ocorrido em 17 de agosto, abriu vista ao Ministério Público para conhecimento e manifestação, não sendo caso de arquivamento. No dia 27 de setembro, a defesa de Sâmia Patrícia Riatto Watanabe apresentou-se no processo, o qual está concluso novamente para despacho do Juízo.

O que diz a clínica?

 

A fisioterapeuta indiciada pela agressão à criança foi desligada da empresa Speciale Clínica Multidisciplinar, antes mesmo da descoberta do caso da agressão à criança.

Em nota, o estabelecimento informou que “desde junho deste ano, após fatos administrativos que infringiam as normas da referida clínica, a Dra. Ana Paula Marques decidiu por bem rescindir a prestação de serviço bem como cancelar a permissão de utilização de espaço para atendimento da Terapeuta Ocupacional, por isso o desligamento da funcionária”, diz o texto.

Apesar da nota se referir a junho, no inquérito policial o menino teria relatado ao pai que a última agressão ocorreu em 1º de julho.

Ainda no texto, a empresa diz que após afastamento da profissional, procurada pela mãe da vítima, foi feita a análise das filmagens que evidenciaram as agressões. Diante desse fato, a clínica informou sobre as agressões os responsáveis pelos menores atendidos pela suspeita e que disponibilizou assessoria jurídica.

Por G1 AM


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